24º Domingo do Tempo Comum – 2023

 

“Deus perdoará nossos pecados desde que nos arrependamos e perdoemos nossos irmãos.”

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No evangelho deste domingo, contemplamos a passagem do empregado que devia uma enorme fortuna a seu patrão, o equivalente a dez mil talentos. Cada talento custava em média 500 kg de ouro. Hoje o grama do ouro custa R$ 300,86. Portanto, nos tempos de hoje, 10 talentos custariam alguns milhões de Reais.

 

O patrão lhe cobrou a dívida, mas vendo que seu empregado não poderia lhe pagar, então teve compaixão. Já o empregado não conseguiu perdoar a dívida de seu companheiro que lhe devia o equivalente a 100 Reais, mandando jogá-lo na prisão.

 

Repararam que a balança da justiça está consideravelmente desigual? O nome certo pra isso é hipocrisia. É quando alguém faz com o outro o que não gostaria que fizessem com ele. No entanto, o empregado era um hipócrita, ou seja, uma pessoa injusta e mal-agradecida.

 

Devemos colocar as coisas na balança e ver o que é melhor para os dois lados e não somente para um. Tem gente que ao negociar quer sempre levar vantagem em tudo, porque não sabe ceder, e as custas do outro.

 

No caso do empregado, ele não soube ceder, pois não quis reconhecer que foi perdoado de uma dívida de milhões e que era mais do que sua obrigação perdoar também a dívida de seu companheiro que lhe devia muito menos.

 

Quando o patrão ficou sabendo da crueldade de seu empregado, indignou-se e mandou entregá-lo aos torturadores, até que pagasse toda a sua dívida. Deus perdoa nossos pecados com uma condição, desde que perdoemos nossos irmãos.

 

E também quando, de fato, nos arrependemos de ter feito mal ao próximo. Quando perdoamos somos restaurados, pois tiramos de nossos corações o rancor, o ódio e a ira.

 

Em muitas pinturas medievais, a barriga de Jesus crucificado está saliente, isso se chama Rahamim em hebraico, significa que seu colo está repleto de acolhimento, misericórdia e compaixão.

 

Não que devemos ter barriga, pois aquilo se trata de uma ilustração; mas a mensagem é que devemos ser acolhedores e misericordiosos como Jesus.

 

A palavra perdoar vem do latim perdonun. O “per” é um prefixo que significa em excesso, que vai além, e “donun” significa um presente, uma graça, gratuidade.  Perdoar é agraciar alguém que te prejudicou, e também a capacidade de retirarmos de nossos corações o que nos escraviza, nos tira a paz e nos faz sofrer.

Não pense que quando evitamos alguém estamos deixando de sofrer, pois inconscientemente estamos sim, isso nos faz estar sempre em alerta tirando nossa paz, por causa da imagem narcisista que há em nós. É quando nos apaixonamos por nossas aparências e achamos que o outro cansa nossa beleza.

 

Santa Terezinha fazia questão de orar ao lado de quem ela não gostava só pra vencer o narcisismo porque ela tinha consciência de que isto poderia afogá-la. O narcisista se acha superior aos outros.

 

Quando achamos que nossa imagem foi arranhada, caímos no ódio, na ira e no ressentimento que nos leva ao cemitério de nossas histórias mal vividas. Para isso, devemos nos calar pra não perder a razão, pois o silencio é a maior sabedoria.

 

Quando não aceitamos as injustiças, devemos entrar na dinâmica da humildade, perdoando, amando e pedindo em adoração, diante do Santíssimo Sacramento, pelo convívio com nossos irmãos e pela libertação de nossas imagens narcísicas. 

 

Disse o Profeta Isaías: “Diante Dele se virarão o rosto porque ninguém aguentará olhar para Jesus Cristo na Cruz, tal é o homem desfigurado”. Jesus se desfigurou para que pudéssemos ser restaurados na sua imagem e semelhança de Deus. Nossa imagem perfeita é a imagem do amor.

 

Para refletirmos a imagem de Deus que é amor, devemos nos desfigurar (engolir), para que o outro tenha sua imagem restaurada. Desfigurar também significa ter compaixão, ou seja, entender a limitação do outro acolhendo-o e amando-o.

 

Deus não quer que nos vinguemos e façamos justiça com nossas próprias mãos, porque é Ele quem fará justiça. Deus quer que sejamos reconhecidos no mundo como homens e mulheres de compaixão. A compaixão é o DNA do cristão, que está ligado à ilustração da barriga saliente de Jesus Cristo na cruz.

Artigo baseado na homilia de
Pe. Manoel Corrêa Viana Neto.
Diocese de Campo Limpo,
São Paulo – SP.