3ª Semana da Páscoa – 2023
A confiança em Deus é a base de nossa fé.
Significa que ter fé é confiar em Deus mesmo que Ele não realize nossos desejos, porque muitas vezes ainda não é o momento, ou não estamos preparados para a graça, ou também aquilo que tanto desejamos pode não fazer bem para nós. Foi assim que nossos pais nos aconselharam ao longo da vida.
Por isso devemos confiar em Deus não somente pelas graças a nós concedidas, mas pelo seu amor. Quando Deus nos corrige, também devemos confiar Nele porque sabemos que estamos errados, a confiança em Deus é fruto do amor, mesmo quando nos sentimos abandonados.
O evangelho deste domingo relata a passagem dos discípulos de Emaús que estão voltando para casa desanimados, um deles é Cléofas, diminutivo de Cleópatro e masculino de Cleópatra, o outro discípulo, classicamente, somos nós que também desanimamos da caminhada através de crises existenciais, de fé etc.
Esses discípulos vivenciaram em Jerusalém os últimos momentos de Jesus Cristo. Geralmente, quando Deus não se manifesta concretamente em nossas vidas, desistimos de nossos sonhos e vamos tocando nossas vidas do jeito que dá. Então Jesus aparece a esses discípulos ressuscitado e, mesmo assim não perceberam sua presença, porque para percebê-la é preciso ter fé.
Não basta dizer apenas que tem fé, pois a fé é uma experiência com Cristo ressuscitado e, além disso, devemos ter um coração puro como o de uma criança. Para ter fé não é necessário conhecer toda a doutrina ou rezar muito, porque a fé é um dom que Deus dá, de forma misteriosa, a quem Ele escolhe.
A fé é um processo de crescimento que deve ser feito dentro de nós, como uma semente introduzida em nosso ser que é fecundada pelo Espírito Santo para que a cultivemos e a amadurecemos, e não fique estacionada como se estivesse ainda nos primeiros meses de gestação.
Amadurecer a fé significa não desistir de crê em Deus mesmo nos momentos de tribulações que temos que passar para nos fortalecer. E muita gente desiste de ser cristão por conta disso, no entanto esse modo de fé não passa de uma fé infantil.
A fé infantil é comparada a uma gravidez psicológica, a barriga cresce, mas não há nenhum feto dentro dela, portanto não tem o que gerar. Por isso, quando muitos de nós enfrentam as dificuldades da vida, não sabem o que fazer e desistem, buscando soluções nos falsos prazeres da carne, como por exemplo, não praticar os ensinamentos de Deus para ter uma vida livre da escravidão do pecado.
Mesmo assim, Jesus Cristo nos acompanha e nos chama de volta, assim como fez com os discípulos de Emaús, fazendo com que a fé deles fosse gestada a ponto de chegar o momento de darem à luz a Cristo, ou seja, entender o significado da fé.
Nossa fé tem que ser gestada para quando chegar à fase adulta possamos anunciar Cristo às pessoas e isso acontece quando somos capazes de fazer o bem amando nossos irmãos mesmo nos odiando, retribuindo o mal com o bem e evitando fazer justiça com as próprias mãos, porque a justiça de Deus é maior do que tudo.
E o mais importante, devemos crer na Eucaristia. Os pais do beato Carlo Acutis, vendo que ele tinha um amor muito grande pela Eucaristia quiseram presenteá-lo com uma viagem à Terra Santa, e Carlo Acutis disse o seguinte a eles: “Pai, por que eu vou à Terra Santa para conhecer o lugar onde Jesus nasceu e viveu se em todas as missas eu o tenho vivo, presente na Eucaristia?
No tempo de Jesus era mais difícil se aproximar Dele do que hoje e isso não invalida ir à Terra Santa pois é um lugar histórico onde podemos enriquecer nossa cultura e espiritualidade. Para quem crê, a Eucaristia é o bem mais valioso da face da Terra, por isso não devemos deixar de consumir um fragmento sequer quando o recebemos em forma de pão.
Tem muita gente que comunga sem saber da importância deste sacrifício de Jesus, devemos dizer amém ao recebê-lo em nossas mãos ao invés de dizer, como muitos dizem, obrigado. Amém significa: Eu creio!
Para nós cristãos, a ressurreição é um dado fundamental da nossa fé porque o verdadeiro cristão não crê na reencarnação, caso contrário, ele não é digno de comungar, senão este sacrifício de Jesus Cristo é nulo. Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé.
Por isso que, depois da homilia, a gente renova nossa fé rezando o Creio em Deus Pai, onde a professamos nos fundamentos da doutrina católica. Dentre essas verdades do credo, está uma que é crença na ressurreição de Cristo, e na de todos nós quando formos dignos de receber o reino de Deus.
No entanto, os discípulos de Emaús têm que vivenciar, com Jesus Cristo, um aprofundamento na fé. Na verdade, Jesus dá uma dura neles de modo nada pacífico como aparenta na Bíblia, ainda mais eles que leram as promessas das escrituras através da tradição judaica, e sabiam que o Messias seria o protagonista dessa profecia.
Na primeira leitura, São Pedro anuncia aos judeus: “Jesus de Nazaré foi um homem aprovado por Deus e vós o matastes!”; ou seja, esse Deus foi morto por todos nós, e é morto toda vez que pecamos. Depois desse sermão, cerca de 3 mil pessoas se converteram porque reconheceram, através de suas realidades e experiências de vida, que Cristo morreu por causa de seus pecados.
Para sermos cristãos, muitas vezes devemos ser altruístas, ou seja, ter compaixão e ser solidário com o próximo mesmo que para isso assumamos a culpa de um erro que não cometemos, com o propósito de semearmos a paz. Porque o mundo odeia Jesus Cristo por não o entender, e o cristão tem o discernimento de distinguir o que é bem do que é mal.
Por isso, diante de nossas falhas, Deus nos dá a graça de nos reconciliar com Ele, e para isso devemos nos perdoar e perdoar nossos irmãos. A Eucaristia é como se fosse um casamento com Cristo, por isso também devemos viver o matrimônio de forma sacramental, ou seja, com o propósito de gerar frutos. E um dos frutos do matrimônio são os filhos.
O casal que não gera filho, por decisão própria, não e digno de ter um casamento sacramentado porque não está aberto à vida. Pois os filhos são a continuação da nossa fé cristã, e mesmo que o casal não tenha condições biológicas de gerar um filho, adote-o. E também não precisa ter 10 filhos, um só ou dois já está bom, ainda mais nos tempos de hoje.
Quando os discípulos de Emaús percebem a presença de Jesus Cristo na vida deles, eles saem felizes para anunciar a boa notícia, dizendo que de fato Cristo ressuscitou. Devemos receber a Eucaristia com essa mesma alegria, a ponto de nos fazer querer falar de Deus às pessoas, pois Ela nutre e fortalece nossa fé e nossa alma.
E mesmo que estejamos passamos por dificuldades, devemos estar em paz de espírito por sabermos que, na Eucaristia, Jesus está conosco, pois é em nossas fraquezas que Jesus nos faz fortes. O amor supera o mal, supera o ódio e supera as crises, inclusive as dificuldades que passamos na vida, basta sermos eucarísticos para nossos irmãos.
Artigo baseado na homilia de:
Padre Manoel Corrêa Viana Neto.
Diocese de Campo Limpo,
São Paulo – SP