4º Domingo da Quaresma – 2023

 

Ter fé é crer no amor de Deus.

Vivemos em um mundo de bondades, mas também de maldades, e quando escolhemos o amor de Deus começamos a ter fé, pois toda a fé em Deus nos leva a praticar o bem e a amar. Foi assim a experiência do cego de nascença com amor de Deus.

 

No primeiro domingo da quaresma refletimos o evangelho das três grandes tentações de Cristo, no segundo domingo a transfiguração do Senhor porque Deus quis fortalecer a fé dos discípulos, e no domingo passado Jesus tem um diálogo com a mulher samaritana, e nessa conversa a dois, a mulher se converte ao experimentar da água viva de Cristo.

 

Devemos acreditar em Jesus, não apenas através de testemunhos, mas por experimentá-lo em nossas vidas. Assim também foi na vida de Jó, que era um homem rico, justo, pai de família e temente a Deus. E de repente perde tudo e ainda contrai lepra.

 

Os amigos de Jó, inconformados, jogavam na cara dele dizendo: “Jó qual pecado você cometeu para estar pagando por estes males?” E Jó, mantenho sua fé, negava ter cometido qualquer injustiça. O livro de Jó quer discutir a razão do sofrimento dos justos.

 

E Jó, mesmo não entendendo nada, dizia: “Deus deu, Deus tirou, bendito seja Deus!” Jó não entra na lógica racional humana e mundana, onde qualquer ser-humano, em uma situação semelhante, questionaria a existência de Deus.

 

E depois que Jó recuperou seus bens, sua família e saúde, ele agradeceu a Deus dizendo: “Eu conheci a Deus por ouvir dizer, e hoje eu o conheço por vê-lo”. Ver na Bíblia significa uma experiência, a fé é uma experiência com Deus.

 

No evangelho de hoje, o cego de nascença recupera a visão através de sua fé, ou seja, através de sua experiência com Deus. No tempo de Jesus, quem nascesse cego, era considerado impuro porque não podia ler a torá, frequentar o templo e nem participar do convívio com a comunidade; então só lhe restava mendigar.

 

Na sociedade de hoje, pode ser que também experimentamos essa cegueira por não conhecermos a luz de Deus, pois as vezes nos falta discernimento para praticarmos o bem e, esta ausência de luz, acaba nos escravizando; portanto devemos ser humildes, reconhecer nossas falhas e ter compaixão de nossos irmãos.

 

Em cada missa, Jesus Cristo vem ao nosso encontro e coloca “saliva com terra” em nossas vidas. No tempo de Jesus, o barro simbolizava a concentração do Espírito, como um barro nas mãos do oleiro. É o Espírito moldando esse homem cego, fazendo dele um novo homem.

Se você crê que Jesus Cristo morreu na cruz por ti e que Ele verdadeiramente te ama, Jesus o convida a sair das trevas a caminho da luz, ou seja, a sair da morte para a vida e do pecado para a graça. Por isso, esse homem tem que caminhar até a piscina de Siloé, que existe até hoje em Jerusalém, para se purificar e se restaurar.

 

Este caminho simboliza a nossa caminhada de crescimento na fé e o nosso batismo. Não basta dizermos que somos tementes a Deus se não o experimentarmos em nossas vidas, pois para isso devemos trabalhar nossa fé para que ela seja iluminada. Deus não faz nada em nossas vidas sem colaborarmos com Ele, ou seja, sem darmos o primeiro passo.

 

À medida que eu vou conhecendo Jesus Cristo, eu vou aderindo a Ele, por isso esse homem passa por algumas etapas até recuperar sua visão, e a última foi crer em Deus. Esta é a chave da iluminação que dá sentido a nossa história de vida.

 

Por que passei por este fracasso, por que passei por esta situação de horror ou de morte na minha família etc.? Com a luz do Espírito Santo seremos capazes de alcançarmos estas respostas de forma completamente diferente do que imaginávamos, pois tudo isso têm um sentido de ser, no plano de Deus.

 

Hoje temos testemunhos de pessoas que tiveram uma experiência com Deus mesmo na dor, e uma delas é de um monge beneditino, superior no mosteiro da Itália, que contraiu câncer maligno no fígado.

 

Apesar dele se submeter ao tratamento de quimioterapia, sua luta não é fácil e, mesmo assim, ele reconhece que essa doença foi o maior presente que Deus lhe deu nesta quaresma e que Deus não nos dá nada que não seja para a nossa salvação. Nossa cruz gloriosa.

 

Se Deus permite determinadas situações em nossas vidas, é para o nosso crescimento e nosso bem. Quando perguntaram a Jesus: “Mestre, quem pecou pela enfermidade deste homem, ele ou seus pais?” E Jesus responde: “Nem ele, nem seus pais, mas isto serve para que as obras de Deus se manifestem nele!”

 

Devemos desassociar, de uma vez por todas, doenças e enfermidades com pragas de Deus. Não é porque somos pecadores que nós sofremos em virtude de nossos pecados. Deus é sumo bem e tudo o que Ele permite em nossa vida é para o nosso crescimento. O evangelho termina com esse homem tendo coragem de professar sua fé.

 

Por isso que, para nós cristãos, nem a morte é capaz de destruir a nossa esperança na vida eterna, porque Cristo prometeu o céu para nós, e para isso, devemos começar a construir o céu aqui na Terra através de nossa experiência com Deus.

 

Artigo baseado na homilia de:
Padre Manoel Corrêa Viana Neto.
Diocese de Campo Limpo,
São Paulo – SP