10º Domingo do Tempo Comum – 2023

 

“De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”

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Na primeira leitura, o profeta Oséias, que viveu 750 anos antes de Jesus Cristo, tenta alertar o povo de Israel a tomar consciência. Naquela época Israel ainda não era uma nação unida, tinha o reino do sul e o reino do norte, ou seja, o reino de Judá e o reino de Israel. O reino de Judá era uma nação politeísta, cujo Deus de Israel, Javé, não era cultuado por eles como único Deus.

 

O povo hebreu foi um dos primeiros povos a crerem em um só Deus, mas com o tempo, Judá deixou de ser uma nação coesa e vivia um tempo de dissolução moral, política, dos costumes e sofria influência de povos estrangeiros e de seus deuses. Neste momento, Israel também está recebendo influência de fora e também vinha cultuando outros deuses.

 

Então, Oséias é enviado por Deus para chamar a atenção desses povos, porque a fé deles era supérflua, bastavam enfrentar qualquer dificuldade para deixarem de crer em Deus. No entanto, Deus foi lapidando esses povos para se aperfeiçoarem na fé e na fidelidade monoteísta.

 

E isso implica exercer a misericórdia e não sacrifícios, como também o conhecimento de Deus e não holocaustos. Conhecimento, pra Oséias, significa estabelecer uma relação íntima com Deus. O que Oséias disse àqueles povos, há 2750 anos atrás, serve também para nós.

 

Hoje também há muitos cristãos que são idólatras, que acreditam em outros deuses, mesmos se identificando como cristãos, porque creem também na reencarnação, no espiritismo, em horóscopos, na ideologia de gêneros, participam de sociedades secretas, vivem a desconstrução familiar e por aí vai.

 

No tempo de Oséias, o povo da terra de Judá, que não escutou sua voz, foi invadido pela Síria 20 anos depois, quase dizimando todo o reinado do norte por conta da corrupção que aquela região vivia e também por não serem fiéis a Deus.

 

Se não colocarmos Deus como fundamento de nossas vidas, o homem será colocado no centro e não haverá mais valores morais. Hoje estão tirando das escolas públicas crucifixos e imagens de santos das praças públicas porque o Estado se denomina laico (que não se conjuga com a vida religiosa), mas não é ateu porque nossa constituição começa com Deus.

 

Na segunda leitura, São Paulo fala de Abraão, este que se tornou pai de muitos povos, mas antes, Abraão era considerado desonrado por não possuir terras, filhos e ainda por ser idólatra, porque também cultuava outros deuses.

 

E Deus fala para Abrão ter um filho com Sara, sua esposa, cujo útero já era estéril, e por um milagre tiveram Isaac. Mas antes, Abraão duvidou da palavra de Deus e tentou engravidar sua escrava, que na época era permitido, e assim tiveram Ismael.

 

Isto serve para refletirmos que Deus escolhe os mais pecadores, como também os mais fracos e excluídos, para se converterem e cumprirem suas missões, assim como Jesus fez com São Mateus, que era um cobrador de impostos e judeu. Mateus era odiado por todos, tanto pelos judeus por trabalhar para os romanos, que era o povo opressor, como também pelos romanos por ser judeu.

Então, Mateus colocava seus afetos no dinheiro, porque, antes de conhecer Jesus, era a única coisa que o consolava. Jesus olha para a qualidade que há no coração deste homem e o chama para segui-lo, porque muitas vezes a vida esconde o que há de melhor em nós.

 

O mundo nos ensina que devemos fazer de tudo para sermos reconhecidos, mesmo que para isso pisemos nas pessoas, onde o certo é levar vantagem em tudo. Ao contrário disso, Jesus nos fala: “Segue-me!” como fez com Mateus. Este se levantou e seguiu Jesus. Na Bíblia levantar-se significa experimentar uma vida nova.

 

O morto não caminha, por isso o morto está sempre deitado, e muitos de nós ainda estão dormindo nas realidades de fracassos e de tristezas quando somos incapazes de perdoar, de amar e de nos reconciliar, inclusive de ver a beleza no outro, quando na verdade só vemos a desgraça nele. Mas não vemos que ele também está ferido e que precisa de nós para que o tiremos dessa morte.

 

Ser amado e amar é ser, por isso devemos nos contentar com o amor de Deus. Quando Mateus se levanta, significa que ele viu no olhar de Cristo, não um olhar condenatório, mas um olhar misericordioso e acolhedor. Para restaurarmos os relacionamentos humanos, basta olharmos para o outro e valorizar o que ele tem de melhor.

 

Perdoai e ser-vos-á perdoados, o perdão é a cura, por isso Jesus diz que veio para os doentes e não para os sãos. E para isso devemos perdoar a nós mesmos. Não é problema ter fracasso e também não é problema errar, basta nos arrependermos e buscar não errar mais.

 

Todos nós estamos submetidos a cair e a pecar, mas devemos entender que Jesus estará sempre ao nosso lado para nos levantar. Em seguida, Mateus convida Jesus para almoçar em sua casa juntamente com outros cobradores de impostos, e Jesus vai, porque naquela época almoçar significava edificar laços de amizade muito íntimos; enquanto os fariseus e doutores da lei criticaram Jesus por este ato.

 

Temos um tesouro dentro de nós que são qualidades e dons que Deus nos deu para usarmos a favor do próximo, e assim Deus se alegrará conosco e se rejubilará.

 

Assim como Mateus, Deus nos convida a fazermos parte do banquete da Eucaristia, para que sejamos no mundo sinais de Cristo e que outras pessoas sejam curadas e salvas. Que não permitamos que o mundo abafe a beleza que há em nossos corações porque somos obras primas de Deus.

 

Artigo baseado na homilia de:
Padre Manoel Corrêa Viana Neto
Diocese de Campo Limpo
São Paulo – SP